A voz vai sair, mas está suspensa no ar. Entre a frase dita ou predita, o interlocutor lê devagar, pelo menos nos olhos, pelo menos nas mãos, nos dedos das mãos, o objeto a que atende o percalço que existe na voz que parou no ar na minha frente. Parece um...
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A voz vai sair, mas está suspensa no ar. Entre a frase dita ou predita, o interlocutor lê devagar, pelo menos nos olhos, pelo menos nas mãos, nos dedos das mãos, o objeto a que atende o percalço que existe na voz que parou no ar na minha frente. Parece um segundo de desespero, vê-se no franzido da testa, e na palidez do rosto. Mas o colo, leve e macio parece curar a dor em segundos. Fosse talvez, só uma rima perdida, ou um ardor que o coração ainda alimenta, ou mesmo a canção que não se lembra mais. Fosse o que fosse, a pausa que nos separa, me enche de angústia e de pena. E ao fundo ainda, tem o cais, uma linha tênue de horizonte, parecendo tremular as embarcações na rubra sombra da tarde-que-não-se-quer-mais. Tem-se a presença ali, quase neutra, enraizada no tempo, esperando o sopro da vida, para surgir na vida, de novo... "portrait - uma sintonia" nelson laretto s. paulo, 25/07/2017
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