Capítulo 19
Sabe, Dulcina, às vezes me pergunto por que acabo indo nas suas
águas.
Na verdade, sempre refutei tudo o que você me dizia, todas as histórias
as quais, via de regra, achava idiotas, sem sentido.
Nunca a vi como um ser
humano, estou sendo...
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Capítulo 19
Sabe, Dulcina, às vezes me pergunto por que acabo indo nas suas
águas.
Na verdade, sempre refutei tudo o que você me dizia, todas as histórias
as quais, via de regra, achava idiotas, sem sentido.
Nunca a vi como um ser
humano, estou sendo muito sincera comigo, sabe? Você pra mim, nunca
passou daqueles servidores invisíveis, quase descartáveis, que a gente se
depara por algumas horas.
Que a gente precisa, mas finge que não vê.
Que
me interessava a sua vida, as suas atitudes desleixadas, o seu jeito simplório
de me contar o que lhe acontecia no metrô, na esquina de casa, na feira? Eu
tinha outra vida para viver.
Outros caminhos para percorrer que não os seus.
Ou não.
Talvez meus caminhos fossem muito curtos e sem nenhuma aventura
e vinha você, falando alto, esbravejando de suas atividades cotidianas, jogando
na cara a sua vida intensa.
Se esparramando pelo meu tapete, transbordando
na minha sala, na minha cozinha, na minha vida insalubre.
Não, eu não queria
saber de
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