RELUZENTE
O barulho da televisão tomou conta da cozinha.
Aquele barulho
ensurdecedor.
Não lembro bem por quanto tempo ouvimos
aquela coisa irritante, aquele barulho todo, mas foi o suficiente
pra me dar conta que a testa do pai foi ficando cada vez mais...
More
RELUZENTE
O barulho da televisão tomou conta da cozinha.
Aquele barulho
ensurdecedor.
Não lembro bem por quanto tempo ouvimos
aquela coisa irritante, aquele barulho todo, mas foi o suficiente
pra me dar conta que a testa do pai foi ficando cada vez mais
franzida.
A mãe não deu bola, continuou mastigando a beterraba
sem vinagre jogando-a de um lado para outro da boca.
O barulho
podia lhe causar certo incômodo, mas sentir que o pai franzia
cada vez mais a testa diante da sua passividade sobre o chiado da
televisão lhe dava uma sensação de prazer indescritível que a
impedia de mexer os quadris magros pra levantar da cadeira.
Eu permanecia ali de pé em frente ao fogão com o prato branco
na mão e contemplava aquela costela de boi que reluzia na panela
de alumínio.
Um punhado de arroz acomodado no prato.
Já
conseguia sentir antecipadamente o gosto daquela carne
adentrando minha boca úmida de saliva.
Nunca contei meu
segredo ao pai, mas a costela que ele fritava na panela era
infinita
Less